quarta-feira, abril 24, 2024

Sobre o artista do momento

Tenho de ser advogado do diabo.
Por um lado, um morto. Tenham o pai morto e começam a ver os mortos com outros olhos. Até o Salazar, essa jóia.
Por outro, o símbolo. Não é por acaso que vem à memória uma frase batida: "o respeitinho é bonito". É, é bonito. Mas eu sei de onde vem essa frase, é da sombra da jóia, que não defendia que isso do respeitinho era para todos.
Depois ainda mais dois lados, os do artista. Que por um lado deve fazer o que bem entende numa terrinha habituada à conversa dos "brandos costumes" mas que só insiste nessa conversa porque novamente a jóia passou essa ideia depois dos bons tempos da primeira republica. Mas por outro lado, não deixa de ser o menino habitual, o que faz umas intervenções estéticas, habitualmente removidas por ele mesmo, o que me faz sempre lembrar aquele punk que só fingia que partia a guitarra.
Ou é ou não é. Resolvam-se.

segunda-feira, abril 22, 2024

o que é uma cidade? - 18 anos de PPC

Sentem-se, há espaço à volta da fogueira. 

Há 18 anos, antes de começar este blog, tinham-me mostrado a revista Found. A revista tratava de objectos encontrados na cidade. Na altura ninguém lhe chamaria "storytelling", como toda a gente chama hoje, mas vi a ideia e quis adaptá-la.
Estava optimista. Pensava que ia encontrar muitos objectos perdidos porque na altura andava muito de transportes públicos e a pé. Andava muito, mesmo. Apesar de ainda como hoje, a minha vida ser praticamente casa-trabalho-casa, fazia por não repetir o mesmo caminho 2 vezes. Assim ia descobrindo a cidade como um turista muito incompetente: sempre nas ruas secundárias, nos caminhos mais longos, ruas sem interesse nenhum, a ver se encontrava objectos que me ajudassem a escrever nesse blog.
Não fazia ideia que este tema se ia esgotar rapidamente e que daí a pouco tempos já estaria a escrever sobre a cidade - ou sobre mim, mas isto nunca foi muito profundo, escusam de ir espreitar ao arquivo - só por andar nela.




sábado, fevereiro 10, 2024

Adenda ao post de ontem

A haver uma quantidade absurda de deputados trogloditas no governo, parece-me afinal que não fará diferença e podemos estar descansados, o país não mudará muito. Afinal, não é que o país não seja já racista e muito (sem vergonha nenhuma, é só ligar a televisão ou abrir um jornal ou tentar apanhar um taxi ou ir à segurança social, ou tentar abrir uma conta num banco, ou ser atendido num centro de saúde  ou tentar ir à escola à noite ou ir a uma entrevista de emprego ou tentar alugar uma casa ou vender algo online ou ir a um ginásio ou ser atendido num balcão ou tentar reclamar num restaurante ou ir a um hotel ou contratar uma empregada de limpeza ou apanhar um autocarro às 6 da manha ou viver nos suburbios ou meter os filhos na escola ou pedir ajuda a um polícia ou tentar explicar por A + B que sim racismo existe nem que seja numa infima parte) ou sexista (é só ligar a televisão, ou ler um jornal ou ter uma entrevista de emprego enquanto grávida ou querer um divórcio e ir a tribunal por isso, ser trans - que agora de repente passou a ser um problema também) ou xenófobo ( sem vergonha nenhuma, é só ligar a televisão ou abrir um jornal ou tentar apanhar um taxi ou ir à segurança social, ou tentar abrir uma conta num banco, ou ser atendido num centro de saúde  ir a uma entrevista de emprego ou tentar alugar uma casa ou ser atendido num balcão ou tentar reclamar num restaurante ou meter os filhos na escola ou pedir ajuda a um polícia ou tentar explicar por A + B que sim xenofobia existe nem que seja numa infima parte). Como dizia, para mim, o país não muda muito. Só vou precisar de andar desatento.

quinta-feira, fevereiro 08, 2024

observatório de redes sociais, fevereiro 2024

À beira das eleições, as histórias falsas plantadas nas redes sociais repetem-se. Nada de novo, mas para minha supresa, nada que tenha solução à vista senão abrir mais os olhos e ter atenção a quem se aproveita do desalento dos outros.
Estavamos impreparados. Vingança karmica, por cada dia em que dissemos que os americanos são burros vamos perceber que somos 10 vezes mais burros.
O português é, à sua maneira, inocente. Num plano mais geral, leia-se. Em Portugal somos xicos-espertos. Mas ao nível global, somos uma miséria no que toca a literacia de media. De capacidade de análise. De abstração. De debate. De opinião.
Novamente, à nossa maneira, somos inteligentes, perspicazes e empáticos. Mas ao nível global, somos perspicazes ao nível um-olho-no-burro-outro-no-cigano. Basta o cigano disfarçar-se de burro ou de médico ou político e já confiamos em tudo o que lemos.

A unica coisa que falha nisto tudo é que na verdade muitas dessas notícias falsas são tão falsas que nem sequer são a fantasia molhada da extrema direita, mas a fantasia molhada da extrema esquerda. Exemplo: cancelamento, a fantasia da moda. Aparentemente as pessoas estarão com medo de ser canceladas e esse medo pode ser explorado. Mas tem de ser minimamente assente num medo real.
A historia que li relatava alguém que tinha ido à manifestação nazi e que sendo apanhado pelo patrão, foi despedido na hora. Nos comentários, ninguém acreditava na história, mas pelos motivos errados: a quantidade de erros ortográficos (que, saibam, são propositados para ampliar o alcance do post.)
É impossivel acontecer em portugal porque literalmente ninguém politicamente incorrecto - enviem-me um exemplo, por favor - foi cancelado até hoje. Negros? sim, cancelados. Ciganos? sim. Jornalistas? sim. humoristas de esquerda? sim. Quem dera que houvesse alguém cancelado injustamente para ser um exemplo usado pela extrema-direita todos os dias.
Em Portugal, politicamente incorrecto e a roçar o absurdista, é revelar que o país é muito racista, muito conservador, e que as mulheres devem ganhar o mesmo que os homens. É o tipo de coisa que ninguém escreve no facebook só para não ter de levar com o trogloditas habituais.



quinta-feira, janeiro 18, 2024

desafio

Desafio alguém a encontrar pessoa mais sensível que um apoiante do Ch*nga. Manipulados pela única pessoa do partido com uma cabeça pensante, precisam de o ouvir para que tudo faça sentido, que os acomode como um cobertor quentinho de ódio. Destapem-se do cobertor e ouçam algo ligeiramente distinto da conversa de café e é um ver-se-te-avias de choro porque já não podem dizer nada, porque isto e aquilo e birra de sono porque lhes tiraram a chucha. E os outros, rapaziada, podem dizer o que entendem? Deixem-me ser intolerante, pelo menos, com os que são mais intolerantes que eu.
É preciso repetirem o mantra racista continuamente para que ele faça sentido. Desligue-se o mantra e voltamos a ter pessoas razoáveis, amigos de todos, cientes dos seu preconceitos e capazes de os encarar. Um bocado como um grupo de miudos mal-educados no autocarro que em casa são uns anjos.